segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cientistas 'degustam' o primeiro hambúrguer de laboratório do mundo

Desafio: será que os cientistas holandeses conseguiram recriar em laboratório o sabor e a cor de um hambúrguer real como o da foto?
O primeiro hambúrguer feito em laboratório foi apresentado e degustado nesta segunda-feira, numa conferência científica em Londres.
Cientistas holandeses utilizaram células retiradas de uma vaca para reconstituir os músculos de carne bovina, que foram combinados a outros ingredientes para fazer o hambúrguer.
Os pesquisadores dizem que a tecnologia poderia ser uma forma sustentável para suprir a crescente demanda por carne.
Mas críticos da ideia dizem que comer menos carne seria o jeito mais fácil para compensar a já prevista falta de comida no mundo.

Modo de fazer

Músculo da carne criada em laboratório | Foto: BBC
1. Os cientistas começam extraindo células do músculo de uma vaca.
2. No laboratório, as células são colocadas numa cultura - solução - com nutrientes para promover o crescimento e multiplicação das células.
3. Três semanas depois, as mais de um milhão de células-tronco geradas são divididas e colocadas em recipientes menores.
4. As células já crescidas se transformaram em pequenas tiras de músculo de aproximadamente um centímetro de comprimento e apenas alguns milímetros de espessura (foto).
5. As pequenas tiras são então coletadas e juntadas em pequenos montes, que então são congelados.
6. Quando alcançam uma quantidade suficiente, elas então são descongeladas e compactadas na forma de um hambúrguer antes de serem cozidas.
7. O primeiro hambúrguer testado também leva açafrão, caramelo e suco de beterraba para dar cor e sabor.
Receita: Universidade de Maastricht

Segurança alimentar

A BBC obteve acesso exclusivo ao laboratório em que o projeto para produzir a carne foi implementado ao custo de cerca de R$ 750 mil.
Na Universidade de Maastricht, na Holanda, a pouco maisde 200 km da capital Amsterdã, o cientista à frente do experimento destaca a preocupação ambiental do estudo.
"Vamos apresentar ao mundo o primeiro hambúrguer feito em laboratório a partir de células. Estamos fazendo isso porque a criação animais para abate não é boa para o meio ambiente, não vai suprir a demanda mundial (por comida) e também não é boa para os próprios animais", ressalta Mark Post, professor da Universidade de Maastricht.
Para Tara Garnett, que é chefe da Food Policy Research Network (um centro de pesquisas da área de alimentos) da Universidade de Oxford, na Inglaterra, os tomadores de decisão precisam olhar além das soluções técnicas naárea de segurança alimentar.
"Nós temos uma situação onde 1,4 bilhão depessoas no mundo ficam obesas da noite para o dia e, ao mesmo tempo, um bilhão de pessoas no mundo todo vão para a cama com fome", ressalta.
"Isso é simplesmente estranho e inaceitável. As soluções não se estabelecem na produção, mas na mudança dos sistemas de suprimento e acesso, com barateamento. E mais e melhores alimentos para pessoas que precisam deles", critica.

A receita

As células-tronco são as "mestres" do corpo humano, que podem se desenvolver em tecidos em diversas formas, tais como nervos e pele.
A maioria dos centros de pesquisa atuando nessa área de estudos tenta reproduzir tecidos humanos que possam ser usados para transplantes, reparando danos em músculos, nervos e cartilagem.
Os cientistas da Holanda querem utilizar técnicas similares para produzir músculo e gordura dos alimentos.

Tradicional x de laboratório

Hambúrguer comum | Foto: BBC
Um estudo independente revelou que a carne produzida em laboratório usa 45% menos energia para ser feita do que a média utilizada para a produção a partir de animais criados em fazendas.
O método também significa 96% menos emissões de gás na atmosfera e necessita 99% menos terra.
Fonte:Environment, Science & Tecnology Journal
O professor Mark Post começou extraindo células do músculo de uma vaca. No laboratório, as células são colocadas numa cultura - solução - com nutrientes parapromover o crescimento e multiplicação das células.
Três semanas depois, as mais de um milhão de células-tronco geradas são divididas e colocadas em recipientes menores onde elas se tornam pequenas tiras de músculo de aproximadamente um centímetro de comprimento e apenas alguns milímetros de espessura.
As pequenas tiras são então coletadas e juntadas em pequenos montes, que então são congelados. Quando alcançam uma quantidade suficiente, elas então são descongeladas e compactadas na forma de um hambúrguer antes de serem cozidos.

Tem gosto bom?

Os cientistas tentaram recriar a carne, que inicialmente tinha a cor branca, da maneira mais autêntica possível.
A professora Helen Breewood, que atua com Post nos estudos, vem tentando fazer com que o músculo criado em laboratório fique vermelho adicionando um composto existente na carne de verdade chamado mioglobina.
"Se não se parece com a carne normal, se não tem gosto de uma carne normal, não se tornará viável", afirma Breewood.
No momento, porém, este é um trabalho em progresso. O hambúrguer a ser apresentado hoje foi colorido com suco de beterraba. Os pesquisadores também adicionaram farinha de pão (ou farinha de rosca), caramelo e açafrão, que ajudam no sabor.
"Vamos apresentar ao mundo o primeiro hambúrguer feito em laboratório a partir de células. Estamos fazendo isso porque a criação animais para abate não é boa para o meio ambiente, não vai suprir a demanda mundial (por comida) e também não é boa para os próprios animais"
Mark Post, chefe da pesquisa
Até o momento, os cientistas podem apenas produzir pequenos pedaços de carne por vez. Quantidades maiores iriam requerer um sistema circulatório para distribuir nutrientes e oxigênio.
Os primeiros resultados sugerem que o hambúrguer não terá gosto tão bom, mas Breewood espera que ele tenha um sabor "bom o bastante".

Sofrimento animal

A pesquisadora Helen Breewood, apesar de atuar no projeto para produzir carne em laboratório, é vegetariana e acredita que a produção de carne gasta muitas fontes de energia. Ela afirma que se comesse carne, iria preferir a feita em laboratório.
"Muita gente considera carne feita em laboratório repulsiva num primeiro momento. Mas se eles soubessem o que acontece nos abatedouros para a produção de carne normal, também achariam repulsivo", ressalta.
Numa nota, representantes do grupo Pessoas pela Ética do Tratamento aos Animais (People for the Ethical Treatment of Animals - Peta) ressaltaram os benefícios da carne de laboratório.
"(Carne de laboratório) irá favorecer o fim de caminhões cheios de vacas, frango, abatedouros e fazendas de produção. Irá reduzir a emissão de gases de carbono, economizar água e fazer a rede de suprimento de alimentos mais segura", destacou a nota do Peta.
Mas a escritora especializada em alimentos Sybil Kappor diz que sentiria dificuldades em comer a carne de laboratório.
"Quanto mais longe você vai do normal, de uma dieta natural, mais corre riscos de saúde e outras questões", ressalta.
O último levantamento das Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas sobre o futuro da produção de alimentos mostra crescimento da demanda por carne na China e Brasil - e o consumo só não cresce mais porque muitos indianos mantêm a dieta amplamente vegetariana por costume cultural.
Assim, há o risco de que a carne produzida em laboratório seja uma aparente solução, cheia de problemas.

Como o 420 se tornou o número símbolo da maconha

Maconha nos EUA. Getty
O Colorado já legalizou a maconha nos EUA; discussão ganha força na Europa e nas Américas
Às 4h20 da tarde deste domingo, usuários de maconha vão se reunir em várias cidades dos Estados Unidos e da Europa em um ato para discutir uma nova política para a droga. Em São Paulo, a Semana Pela Legalização da Maconha já teve início neste sábado. Mas afinal, por que se reunir a essa hora e por que o número 420 se tornou um símbolo da maconha?
O encontro no 20 de abril (que em inglês é escrito na forma 4/20, em função do mês 4 e do dia 20) ocorre há varios anos. Já a origem do 420 remete ao ano de 1971, quando passou a ser usado como uma senha por estudantes de ensino médio de San Rafael, no estado americano da Califórnia.

Eles resolveram encontrar o "tesouro" e marcaram de se reunir para a expedição as 4h20 da tarde. Nunca encontraram a plantação, mas a hora do encontro não seria mais esquecida.No outono daquele ano, cinco adolescentes encontraram um mapa desenhado a mão que supostamente mostrava a localização de uma plantação de maconha em Point Reyes, próximo a San Francisco.
"A gente fumava muita maconha naquela época", contou à BBC Dave Reddix, um membro do grupo que tinha até nome, os Waldo. Reddix, que na época tinha o codinome de Waldo Dave, hoje tem 59 anos e trabalha como cineasta.
"Metade de nossa diversão era encontrar a maconha", conta.

'Deadheads'

A confraria passou a usar o número 420 para seus membros da confraria para rodas de maconha. Logo a senha começou a se espalhar entre os amigos, os agregados, os conhecidos, entre eles os integrantes de umabanda de rock californiana, os Grateful Dead.
Rapidamente, o 420 passou a fazer parte do vocabulário dos "deadheads", como eram chamados os fãs do Grateful Dead.
Em 1990, o termo e a explicação foram impressos em um folheto da banda. Foi assim que o código foi descoberto por Steve Bloom, editor da revista CliqueHigh Times, uma das primeiras publicações sobre a maconha nos Estados Unidos.
A equipe da High Times entrou na onda e passou a fazer suas reuniões de pauta às 4h20 da tarde.

Disputa

Anos depois, o termou deu nome a outra publicação especializada em maconha, a Clique420 Magazine. A disputa sobre como o 420 teve origem começou com uma reportagem da revista, segundo a qual um outro grupo de amigos, rival dos Waldo, tinha inventado a históira.
Maconha nos EUA. Getty
O 420 teria tido origem em um grupo de adolescentes na Califórnia, nos anos 1970
Os Waldo reagiram e publicaram cartas e mostraram objetos para "provar" que foram eles os inventores do termo. Desde então, defendem com veemência a sua versão.
"Somos os únicos a mostrar provas", diz Steve Capper, também chamado de Waldo Steve.

Legalização

Segundo Bloom, editor da High Times, o termo virou uma um código semiprivado, que os usuários de maconha vão encontrar por todos os lados. O número aparece até no filme Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, no relógio de um dos personagens.
Primeiro estado americano a legalizar a maconha, o Colorado também se viu às voltas com o número. Recentemente, uma placa que indicava a extensão de 420 milhas da rodovia interestadual 70 foi furtada. As autoridades resolveram se antecipar ao problema e mudaram a nova placa, que agora indica que a rodovia tem 419,99 milhas.
Em Denver, capital do estado, se espera uma grande festa neste domingo, já que este será o primeiro ato 420 desde que o Colorado legalizou a droga, uma política que ganha força nas Américas e na Europa.
O Uruguai aprovou recentemente a legalização da maconha, que será produzida e vendida pelo próprio governo. A discussão também ganha força no Brasil, tendo como mais célebre defensor o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que defende a descriminalização - já em curso na Argentina e no Uruguai.
Em São Paulo, o tema da semana, que vai culminar com a Marcha da Maconha no sábado, dia 26, é "Cultive a liberdade para não colher a guerra". A campanha ganhou apoio de artistas como o cantor Marcelo D2 e o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, fundador do Teatro Oficina.
Os defensores da legalização argumentam que a chamada "guerra contra as drogas" não conseguiu acabar nem diminuir o consumo da maconha, só fazendo aumentar a violência devido a ação de grupos de narcotraficantes, sobretudo na América Latina, um dos centros produtores. Os defensores também ressaltam os efeitos positivos da droga quando usada para fins medicinais.
A política da "guerra contra as drogas" ganhou força nos anos 1980, durante o governo do presidente americano Ronald Reagan. A cada ano, millhares de pessoas morrem na América Latina vítimas da violência derivada do narcotráfico. Os países da região lideram a lista das nações com mais alto índice de homicídios no mundo, segundo relatório recente